segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Almoço e chuva
Na minha infância, em Minas Gerais, na cidade de Nova Era, onde morei até aos 10 anos de idade, aprendi muitas coisas em relação a nossa vida mental, também não era para menos , em “Nova Era”. Meu pai era funcionário em uma agência bancária e gozava de grande respeito na cidade, pois tinha o hábito de ajudar às pessoas necessitadas. Era maçom e espírita, fatos também que criavam problemas para ele junto à comunidade católica, pois o pároco local queria ter o controle da fé, como se este atributo humano pertencesse a uma religião em particular. Nova Era fica situada às margens do Rio Piracicaba, um dos afluentes do Rio Doce que banha a região conhecida como Vale do Rio Doce. Esta cidade, naquela época, década de 50, a temperatura, quanto fazia calor, chegava ao máximo 280 centígrados, mas no frio, era bom ter um cobertor ou cobertores. Certo dia, uma de minhas irmãs acordou chorando com dores na perna, não podia andar direito, poderia ser uma câimbra, devido a friagem. Mas não era. A dor não passava e papai foi ao clínico local. Nos exames foi constatado a possibilidade de um câncer no osso da coxa. O tratamento não poderia ser feito naquela cidade, teria que ser encaminhada à capital, Belo Horizonte. Em nossa casa, nas noites de quinta-feira, acontecia um culto espírita do lar, onde as pessoas amigas chegavam para junto de nós para junto colhermos os conhecimentos do Evangelho. Nesta reunião, pedimos a Deus e aos espíritos protetores que olhassem por nossa irmã que estava enferma. No dia seguinte, sexta-feira, foi confirmada a viagem de papai com minha irmã para segunda-feira. O fim de semana foi de muita chuva e frio. No domingo, a nossa família estava já angustiada pela viagem e pelo tratamento que nossa irmã iria realizar. Ela continuava a chorar muito, pois além da dor física, queria brincar conosco, outros irmãos e correr pela sala e quartos.
Almoçamos naquela manhã fria. Quando acabamos de almoçar, batem a porta. Uma senhora, coberta com alguns panos, podemos dizer uma mendiga que chega e pede um prato de comida. Naquele dia meu pai estava muito tenso, mas recebeu gentilmente a senhora e pediu que entrasse, pois chovia muito. A senhora entrou e sentou à mesa , na cozinha, enquanto minha mãe preparava o prato para ela almoçar. Num gesto, a senhora olha para o lado e pergunta quem estava chorando. Meu pai responde que era a sua filha, mas era coisa sem motivo. A mulher respondeu: - Criança não chora por coisa sem motivo. Traga ela aqui para vovó olhar. Papai, que estava tenso e talvez indiferente, pegou minha irmã no quarto e a levou à cozinha. A senhora a colocou numa cadeira reclinável e pediu que colhêssemos no quintal umas folhas de bananeira. Pediu uma fralda que foi dobrada. De dentro de seus pertences tirou um fumo de rolo e pediu um pouco de querosene. Misturou fumo de rolo com querosene, colocou as folhas de bananeira, o fumo com querosene na fralda e amarou na perna doente. Foi almoçar. Despiu-se de nós após o almoço e beijou a nossa irmã. Foi embora agradecida. Mas, para espanto nosso, a nossa irmã também estava na porta se despedindo dela, sem chorar e tirando aquele pano amarrado a perna que agora estava lhe atrapalhando andar. Ficamos surpresos com o fato, uma melhora instantânea. Nossa irmã já estava correndo por toda a casa. Voltamos à porta para comentar com a senhora. Não mais a vimos. Perdeu-se entre as gotas de chuva da manhã.
O ensinamento que ficou para todos nós é que devemos acreditar na providência divina, na Inteligência Universal. Bata e a porta lhe abrirá, peça e o Pai lhe oferecerá. Se naquela hora, a nossa razão sob tensão, nega o prato de comida, as dificuldades seriam talvez maiores para todos nós. A ajuda requerida na noite do culto foi deferida na manhã de domingo. Mas temos que estar atentos. A ajuda chega pelo nosso coração, não pela nossa razão.
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3 comentários:
Dr Márcio, Sua estória chegou na hora que mais precisava. Estou perdendo as esperanças com relacionado meu filho.nElenpiorou muitomserio parece que surtiu de vez. Esta muito perturbado e anda pelas ruas de um lado para opositor, segundo minha irmã, fazendo coisas de pessoa maluca que perdeu a mente no raciocínio normal. Agora seu tratamentonficounainda mais distante e tenho que voltar ao meu pais o quanto antes.
Augusta
Dr. Márcio,
Deixei o problema nas mãos de DEUS.
Fiquei feliz por ter lhe encontrado na internet, por ler seu blog, mas desde então, desde que pedi a sua ajuda, meu filho se distanciou ainda mais de mim.
Realmente Marcio! Sempre leio as tuas postagens inclusive já passei para alguns amigos, porém sequer nunca enviei comentários. Simplesmente ótimas matérias. valeu! obrigado!
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